Saudades de quando as festas eram sobre a música
Postado em:
20-08-2024, 19:11
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A crescente popularidade dos festivais de música eletrônica tem gerado uma reflexão sobre o verdadeiro propósito de muitos dos que frequentam esses eventos. Se, por um lado, a música eletrônica sempre foi um refúgio para aqueles que vivem e respiram suas batidas e melodias, por outro, é inegável que boa parte do público atual está ali por motivos que vão além da música.
Nos dias de hoje, tornou-se comum ver uma massa de pessoas que, em vez de se conectar profundamente com os grooves, baixos e atmosferas que fazem parte da essência da música eletrônica, estão mais interessadas nos "build-ups" que ocorre antes dos drops das faixas. Para muitos, o momento em que o DJ "solta o drop" não é sobre a música em si, mas sobre a explosão instantânea de euforia coletiva - um espetáculo que, embora visualmente impressionante, pode ser superficial em termos de apreciação musical.
Os DJs, percebendo essa demanda, muitas vezes adaptam seus sets e criam músicas com build-ups cada vez mais longos e drops cada vez mais bombados para atender a essa expectativa. Não é a toa que o estilo de música big room explodiu nos festivcais ao longo dos anos por esse motivo. O resultado? Sets padronizados, focados em proporcionar um "pico" emocional temporário, mas que carecem de profundidade ou inovação musical. Ao invés de explorar a rica tapeçaria sonora que a música eletrônica oferece, muitos sets acabam seguindo uma fórmula previsível: build-up, drop explosivo, repeat. Isso empobrece a experiência, afastando-a da verdadeira arte da mixagem e da criação de paisagens sonoras complexas.
“Quando consegui descobrir breakbeat hardcore e jungle, que no final das contas virou drum’n bass, as pessoas tinham um tipo de preconceito porque achavam barulhento. E hoje eu vejo que EDM é 30 vezes mais barulhento. É engraçado. Não acho que é um fenômeno incrível porque não é uma música que me agrada. Para mim não tem nenhuma novidade isso. É um estilo de música completamente feito por marketing. Muitos dos artistas nem fazem as músicas, eles utilizam ghost producers. Não é minha praia, mas tem espaço para todo mundo” disse DJ Marky para a revista Rolling Stone.
Esse fenômeno levanta uma crítica importante: qual é o real valor desses festivais quando grande parte do público não vive a música eletrônica fora desses eventos? Muitos frequentadores não conhecem os artistas além dos hits que explodem nos drops, nem têm interesse em explorar a cultura que sustenta a cena eletrônica. Eles não são apaixonados pela música eletrônica, mas sim pela catarse momentânea que esses festivais oferecem.
Essa desconexão é preocupante porque transforma a música eletrônica em um produto de consumo rápido, esvaziado de seu significado cultural e artístico. A verdadeira paixão pela música eletrônica vai além dos festivais. Ela envolve a descoberta de novos sons, a apreciação de longas sessões de mixagem, e o entendimento da evolução dos gêneros dentro da cena. É sobre se perder em uma faixa por sua complexidade, e não apenas esperar pelo próximo drop.
Portanto, é crucial que, tanto DJs quanto público, reflitam sobre o propósito desses eventos. Eles deveriam ser uma celebração da música eletrônica em todas as suas formas, e não apenas uma oportunidade para "explodir" no drop. Afinal, a música eletrônica merece ser vivida e apreciada em sua totalidade, e não reduzida a momentos de euforia instantânea.
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